Meus quinze anos são ridículos. Ela fez quarenta, contou pra turma. Cantamos parabéns. Dezesseis anos de magistério, acrescentou, orgulhosa. Boca, voz, veludo. Já dava aula de matemática antes d’eu nascer.
Silêncio na sala, fazemos os exercícios. Ela ondula entre as carteiras, magnífica. Essas equações dos infernos não têm resultado, nem fim! Saio do eixo, remexo as pernas. Ela percebe, se aproxima, toca meu ombro, oferece ajuda. Minha situação só piora.
Nem em casa ela me dá sossego. Usa esse perfume morno que gruda em mim. Tomo banho, esfrego, não sai.
Meu pai tem mania de santo. Quadros, estatuetas, tem pela casa toda. Encaro Santo Antônio no corredor. Pergunto por que ele deixou eu nascer tão tarde, por que arruinou minha vida amorosa pra sempre.
Santo Antônio me encara, oco de respostas.