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Mandalas

Se conheceram no ônibus, acaso. Nas costas nuas vistas pela primeira vez, a mandala. Coisa mais linda, quero uma igual!, ele disse. Igual não fica, ela avisou, e não sai mais. Eu sei, ele disse.

A primeira dele foi na barriga, doída que só.

Multiplicaram mandalas, par a par. Quando ela conseguiu emprego, quando ele voltou a falar com o pai, quando viajaram ao Peru, quando ela quebrou o braço de bicicleta. Tudo era motivo.

Um dia o corpo acaba, disso não falavam.

Ela foi chamada a São Paulo, ele ficou. Pelo vídeo, ela mostrava a nova mandala no ombro, montava um sorriso, puxava conversa. Ele aos resmungos, mandala lá no fundo das costas, cicatrizando.

Enfim ele foi. Abraço de afogados no saguão. Gemidos. Choveram mandalas. Até sobrarem só dois exíguos espaços: o canto direito do peito dele, o finzinho da batata da perna esquerda dela. 

Então nada mais foi motivo bom o bastante.