Conta-se que subiram lado a lado a longa escada em espiral, atingiram o cume do farol. Ofegantes, agarraram-se ao parapeito, inspiraram o mar aberto, vento e sal.
Uma retirou o livro da sacola, a outra se aproximou, ombro a ombro. Afagaram a capa de couro, baixos relevos, tempo, toque. Folhearam, as páginas amarelo-ouro tingindo as pontas dos dedos.
Recitaram, uníssonas.
Chegada a noite, lançaram o livro ao ar, mar, vento. Frágeis, as páginas se despedaçaram, flutuaram. Mariposas do Verbo, bateram asas por toda a Terra. Eloquentes, acasalaram-se, aleatórias, promíscuas. Desovaram, descontroladas.
Ovos que se afundam, larvas que brotam, se recolhem, casulos que não tardam. Rompem-se em múltiplas cores, ânsias, luz, ar, mar.
Uma pousa aqui, asas bem abertas.